História de amor em cinco formas

Primeira forma

Seu José morava na mata.
Cortou o palmiteiro.
Tirou o palmito.
Andou pela mata até sua casa.
Olhou para o céu e viu azul.
Chegou em sua casa e deu palmito para mulher e filhos
Fizeram uma prece e comeram.

Segunda forma

Seu José morava na mata.
Cortou o palmiteiro.
Tirou o palmito.
Andou pela mata até sua casa.
Olhou para o céu e viu azul.
Chegou em casa e deu palmito para mulher e filhos.
Fizeram uma prece e comeram.
Os ratos comeram os restos.

Terceira forma

Seu José morava na mata.
Cortou o palmiteiro.
Tirou o palmito.
Andou pela mata até sua casa.
Olhou para o céu e viu azul.
Chegou em casa e deu palmito para mulher e filhos.
Fizeram uma prece e comeram.
Os ratos estavam gordos e vorazes.
Procriaram na cor cinza do seu pêlo.
O rato ia até o palmiteiro.
Tirava o palmito e levava para sua fêmea prenha de mais um rato
Os ratos não comiam mais os restos.

Quarta forma

Seu José morava na mata.
Cortou o palmiteiro.
Tirou o palmito.
Andou pela mata até sua casa.
Olhou para o céu e viu azul.
Chegou em casa e deu palmito para mulher e filhos.
Olharam para os ratos que infestavam a casa e sentiram um amor eterno.
Esqueceram de fazer a prece.

Quinta forma

Seu José e os ratos moravam na mata.
Cortaram o palmiteiro.
Tiraram o palmito.
Andaram pela mata até sua casa.
Olharam para o céu e deram risada.
Chegaram em casa e deram palmito para mulher e crias.
Seu José lembrou-se de fazer a prece e rezou, também, pelos ratos, que não sabem rezar.
Comeram o palmito em uma grande mesa de carvalho.
Seu José começou a sorrir até contagiar a grande família que passou a alegrar-se com o odor e o ruído dos pequenos filhotes.
Animais que grunhiam e andavam pelos pratos, pelos copos, pelas pernas e pelas janelas, como quem pede para abri-las, permitindo, assim, a entrada da luz do sol.

do livro Os infantes de dezembro
de Antonio Calloni