O ator que virou escritor

Carlos Herculano Lopes

Ator consagrado na telinha devido a sua participação em novelas como "Hipertensão", "Bambolê", "O Salvador da Pátria" e "Terra Nostra", da Rede Globo, Antonio Calloni tem também outra paixão artística, a literatura. Autor de um livro de poesias, "Os Infantes de Dezembro",que na época de sua publicação teve boa acolhida da crítica e do público, Calloni acaba de lançar, pela Bertrand Brasil, o livro de contos "A Ilha de Sagitário". Segundo a escritora e crítica Olga Savary, Antonio Calloni, neste seu novo livro, mostra, pela desenvoltura e maneira segura como conduz histórias, "que a paixão pela literatura é tão forte quanto a arte de representar".

Formado em Ciências Sociais pela USP, e vivendo no Rio de Janeiro, Antonio Calloni, em "A Ilha de Sagitário" - composto por 11 contos, alguns escritos na primeira pessoa - passeia com segurança ora pelo humor, ora pela poesia. Econômico nas palavras e, de vez em quando, usando e abusando, mas sem fazer disso uma muleta, das frases curtas (ver o conto "A Matéria"), ele consegue dar um ritmo seguro às narrativas. Também costuma prender o leitor pelo insólito, como em "Os Pavões", quando um casal de pavões sai de dentro de suas esculturas, copula na frente do protagonista da história e foge pela janela, num dia em que ele almoçava em um restaurante chinês. Já no conto "A Mulher Espumante" o amor e o sexo se misturam, num encontro inusitado e cheio de surpresas, enquanto um inebriante perfume paira no ar.

Nascido em São Paulo, filho de pais italianos (da Toscana, onde recentemente esteve com sua mulher e filho), Antonio Calloni diz não ter preferências literárias. "Depende da época e da fase que eu estiver vivendo", revela o escritor e ator em entrevista ao ESTADO DE MINAS. Eventualmente costuma mergulhar na filosofia oriental, onde bebe na fonte dos antigos sábios. Os chineses, de preferência. Recentemente, terminou de ler o romance "Mãos Vazias", do curvelano Lúcio Cardoso. "É uma maravilha", resume o escritor, que agora está devorando "Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século", coletânea organizada por Ítalo Moricone e lançada pela Objetiva.

Dividindo seu tempo entre as gravações de "Os Maias" e o lançamento de "A Ilha de Sagitário", Antonio Calloni, nas horas que seriam de descanso, se entrega a outra aventura literária. "Estou escrevendo um romance, uma história de amor", adianta o escritor, ressaltando, no entanto, que não se trata de uma autobiografia. "Mas com certeza algumas pessoas irão se identificar com a história", adianta. O livro ainda não tem data para ser publicado.

Nos anos 70, quando o conto explodiu no Brasil, provavelmente Antonio Calloni já estivesse fazendo as suas primeiras tentativas literárias. Mas como a literatura às vezes pede tempo até que a escrita fique redonda e concisa, como lembrava o mestre Graciliano Ramos, Calloni soube esperar o momento certo para publicar o seu primeiro livro de contos. E faz bem, porque o gênero, embora alguns mais apressados pensem o contrário - e às vezes se dêem mal por causa disto - não é fácil e pede, além de paciência, muito talento. Ambos Calloni soube ter: esperou a hora certa e fez de "A Ilha de Sagitário" uma ótima estréia.

publicado no jornal Estado de Minas
em 24 de janeiro de 2001