Encontro em tom de folhetim

Carlos Herculano Lopes

Ator experimentado nos palcos e na telinha, o paulistano Antonio Calloni, quando não está às voltas com alguma peça ou novela (a última da qual participou foi "O Clone", na Rede Globo, no papel de Mohamed), se dedica a outra grande paixão, a literatura. Autor de Os Infantes de Dezembro, de poesia, com o qual venceu o prêmio Jorge de Lima da Academia Carioca de Letras e União Brasileira de Escritores, como autor revelação de 2000, e do volume de contos A Ilha de Sagitário, ele acaba de estrear no romance com Amanhã eu vou dançar , lançado pela Bertrand Brasil.

Se o livro está saindo agora, a história de Antonio Calloni com ele vem de longe, do início da década de 90, quando começou a esboçá-lo, pensando a princípio em um texto para teatro, que seria montado por Ulisses Cruz. Como a peça acabou não saindo, por um desses problemas normais de produção, guardei aqueles escritos durante uns dois anos. Quando fui relê-los, vi que tinha um bom material nas mãos , conta o escritor. Daí para transformar aquelas anotações em um romance, ou em uma história de amor , como prefere dizer, foi uma conseqüência natural. Em Amanhã eu vou dançar, Calloni conta o relacionamento entre Jasbi e Feula, que protagonizaram uma fulminante paixão.

Narrado na primeira pessoa, Antonio Calloni remete ao intrincado universo de Jasbi, que, na maturidade dos seus 40 anos, retrocede 15 anos de sua vida para contar como foi, quando tinha 25, o seu relacionamento com Feula, uma mulher pobre e fascinante, com quem viveu em um grande conjunto residencial, onde se passa toda a trama. O que quis contar foi a história de duas pessoas solitárias, cada uma buscando a felicidade à sua maneira , conta Calloni. No decorrer do texto ele revela as personalidades dos dois: Jasbi tem idéias muito próprias, uma formação intelectual sólida, enquanto Feula, ao contrário, tem apenas a sabedoria e intuição próprias das mulheres. O que não impede que os dois se apaixonem, no mais clássico estilo de folhetim, linguagem, aliás, propositadamente usada pelo autor no decorrer de todo o romance.

Leitor constante de Dostoievski e Camus, que considera um autor muito sério, em Amanhã eu vou dançar Antonio Calloni sem maiores pretensões a não ser contar uma história de encontro e amor entre duas pessoas conseguiu escrever um livro comovente e simples, um surpreendente e inocente caso de amor , como observou Pedro Bial no prefácio. Com outros livros escritos e esperando o momento certo de publicá-los, o ator diz que, atualmente, depois da ótima repercussão que os personagens interpretados por ele conseguiram nas novelas "Terra Nostra" e "O Clone", não está com nenhum projeto novo para TV ou teatro. Atualmente estou me dedicando muito à leitura, pois acho que ler é mais importante que escrever , confessa, enquanto curte lua-de-mel com seu novo romance.

publicado no jornal O Estado de Minas
em 17 de dezembro de 2002